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Diogo Bastos: 2º Turno Histórico na Argentina

casa rosada

 

Eleições podem ser apenas mais do mesmo como podem trazer surpresas. No caso da Argentina, nossos vizinhos terão um segundo turno pela primeira vez em sua história, desde que esse cenário foi permitido. A eleição de nossos “Hermanos” lembre em muito a recente que tivemos no Brasil: Daniel Scioli, o candidato governista que se apresentou como a continuidade do Kirchnerismo e sucessor de seus programas sociais e visões políticas, Mauricio Macri, o grande opositor, crítico da continuidade do governo mais longo da história da Argentina (somados os governos Néstor e Cristina) que atualmente enfrenta problemas econômicos, entre os quais, uma alta inflação e um candidato “menor” e Sergio Massa, representando uma terceira via e dissidente do peronismo, que obteve 21,1% dos votos e agora seu apoio será fundamental para que um dos dois principais lados obtenha parte de seu “capital” na disputa pelo segundo turno. Podemos muito bem lembrar do cenário Dilma, Aécio e Marina Silva nas nossas próprias eleições, observadas as devidas particularidades.

Daniel Scioli leva consigo o capital político dos Kirchner que durante seu governo melhorou números macroeconômicos, além de reduzir a pobreza e o desemprego, apesar de haver dúvidas sobre os dados apresentados, que muitos afirmam serem maquiados pelo governo. Sua estratégia durante a campanha foi a de se apresentar como o governante que seria o mais confiável em dar continuidade às políticas iniciadas por Néstor Kirchner e traria a segurança de continuar com os programas sociais do governo. Já tendo ocupado o cargo de vice-presidente de Néstor Kirchner, comenta-se que Daniel Scioli teve suas desavenças com Cristina, porém, a notícia não foi confirmada pela grande mídia.

Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires, apresenta seu eventual governo como uma ruptura dos caminhos que a nação sul-americana tem seguido, porém sem mexer nos programas sociais do governo que mais tiveram êxito, apesar de os governistas o acusarem de querer voltar com as táticas de privatização que foram bem comuns na década de 1990 e que muitos apontam como um dos principais motivos de sérios problemas estruturais que a nação enfrentou, devido a ter levado a receita do Consenso de Washington muito ao pé da letra. Segundo Macri, as nacionalizações de empresas como a YPF e a Aerolíneas Argentinas não serão revertidas.

A grande questão das eleições Argentinas, assim como foi na nossa, é a decisão do povo entre escolher as políticas que já conhecem dos governos anteriores dos Kirchner e arriscar a enveredar por novos caminhos e possíveis mudanças de orientação da política interna e externa do país em um cenário de crise e inflação, pelo qual também passam outros países do continente, elegendo um novo governo de uma orientação diferente. Não se pode negar que o governo, ainda possui confiança de grande parte da população, que teve sua vida melhorada após a implementação de programas sociais, porém a crise econômica e política pela qual o país passa, leva o candidato opositor a aparecer como uma figura que desperta curiosidade e leva grande parte do eleitorado a querer arriscar um novo caminho.

A nova votação ocorrerá em 22 de Novembro será acirrada e os dois lados já preparam sua estratégia: Scioli se apresentando como o candidato mais confiável a continuar com as políticas sociais do governo e Macri como o novo caminho para um país em crise. Independente de quem ganhe, os desafios para recolocar nosso vizinho no caminho do crescimento e estabilidade política serão grandes. Com algumas exceções, a situação econômica e política da América Latina não é das melhores e os rumos que uma nação importante como a Argentina tomar, impactarão a região como um todo. Veremos o resultado em breve.

* Diogo Bastos é internacionalista, trabalha na área de expatriados e estuda as questões políticas globais.

** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.