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DIOGO BASTOS: ACORDO FIRMADO TRAZ PERSPECTIVA DE PAZ À COLÔMBIA

Diogo Bastos

Após 5 décadas de conflito, aproxima-se uma solução negociada entre as FARC e o Governo do país.

Em 23 de Setembro último foi firmado um histórico acordo de paz, que já vinha sendo negociado há quase três anos, entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, maior grupo guerrilheiro em ação no país e o governo de Juan Manuel Santos, que mudou substancialmente a linha seguida pelo Governo, em um caminho bastante diferente do seu período como Ministro da Defesa do ex-presidente Álvaro Uribe, grande adversário das FARC.

O acordo, mediado por Cuba, Noruega, Chile e Venezuela, deveu-se às partes terem conseguido encontrar pontos em comum em questões complexas, como a forma de julgamento dos guerrilheiros que confessarem seus crimes e depuserem suas armas. Um tribunal especial, bem como prisões e regimes específicos serão instaurados para julgar os membros que cometeram delitos, exceto os casos de crimes contra a humanidade, que seguirão o tratamento previsto em convenções internacionais.

A guerra entre as FARC e os diversos governos colombianos inicia-se em 1964, ano de fundação da guerrilha, é o mais longo conflito interno da América do Sul, existe há quase 50 anos e resultou em mais de duzentos mil mortos e seis milhões de deslocados internos. Diversos governos e intelectuais colombianos saudaram o acordo de paz no país, que é um dos expoentes atuais do continente, já tendo duplicado sua classe média e reduzido a pobreza de boa parte de sua população.

No passado, outros acordos já foram traçados, mas não conseguiram resistir muito tempo e a agressividade entre as duas partes voltou. As FARC e o Governo Colombiano, apesar de terem chegado a um acordo, ainda possuem divergências ideológicas grandes e um dos pontos, o que prevê a possibilidade de participação política de ex-guerrilheiros, deverá ser bem estruturado e aplicado para que não gere um sentimento de exclusão que pode levar a que o conflito se acenda novamente. Outro ponto que ainda deverá ser bem debatido é a questão do narcotráfico, o grande meio financiador da guerrilha até o momento.

Até que ponto o Governo estaria disposto a deixar que as FARC enveredem pela política ou as FARC estariam dispostas a deixar de lado o controle sobre o tráfico de drogas?

A julgar pelo padrão de “vácuo de poder” que podemos analisar quando um das partes de um conflito sai de cena, será que algum grupo tomará o lugar das FARC se o acordo for realmente cumprido? Será que uma parte do grupo não aceitará as condições e continuará com a guerrilha? Não devemos esquecer que as FARC, apesar de ser o maior grupo guerrilheiro, estimado em cerca de 15 mil homens, não são o único que ainda está em atuação na Colômbia, que também conta com grupos como o ELP (Exército Popular de Libertação) e ELN (Exército de Libertação Nacional da Colômbia), menores, porém ainda ativos e com os quais acordos também devem ser negociados a fim de que o país possa respirar o ar da paz de fato.

Diversos questionamentos podem ser feitos a partir de agora, uma vez que os dois lados deverão demonstrar que realmente estão dispostos a terminar com esse conflito sanguinário, aonde a população colombiana é quem mais sofre. Pesquisas demonstram que a população no geral, excluindo-se a capital, Bogotá, aonde a maior parte dos colombianos se encontra e que nutre um grande desejo de punição às FARC, apoia que Governo e a guerrilha cheguem a um acordo que abranja um cessar-fogo e a tão sonhada paz.

A população já está farta de guerra e todos querem apenas que a Colômbia possa continuar seguindo em seu caminho de crescimento econômico e brilhando em nosso continente que enfrenta crises econômicas e políticas. Definitivamente, se o acordo for cumprido, a confiança e um sentimento de autoestima resultantes poderão ser um motor a mais para o país em sua trajetória ascendente.

*Diogo Bastos é internacionalista, trabalha na área de expatriados e estuda as questões políticas da América Latina e Europa.

** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.