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Daniel Vaz: Um socialista na Casa Branca?

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Começaram as prévias eleitorais nos Estados Unidos, e Bernie Sanders, candidato para a indicação democrata à Presidência, praticamente empata com Hillary Clinton em 1º Estado a realizar a votação, nesta terça-feira, em resultado divulgado nesta terça-feira, 2/2.

A sucessão presidencial dos Estados Unidos começa de maneira surpreendente para os candidatos considerados favoritos, tanto para Donald Trump, pelo Partido Republicano, quanto para a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, que enfrenta uma batalha dura frente ao Senador Bernard Sanders.

A 1ª prévia, ocorrida no Estado de Iowa, indicou uma diferença muito pequena entre a Ex-Secretária de Estado e Primeira-Dama do país, em comparação ao Senador de 74 anos, pelo Estado de Vermont, político independente (isso é permitido pela legislação de lá), que se vinculou ao Partido Democrata apenas em 2015 (49,8% Hillary e 49,6% Sanders).

Se primeiramente a escolha, e depois a eleição para Presidente dos Estados Unidos de Barack Obama, há 8 anos, já chacoalhou a geopolítica mundial, Bernie Sanders poderia talvez causar um terremoto, pois o mesmo está ganhando o apoio popular, principalmente das pessoas mais jovens, mesmo se declarando um socialista democrata, que não se incomoda em ser definido dessa maneira: “Sou socialista e todo mundo sabe disso”, e define seu pensamento da seguinte forma: “Socialismo democrático significa que nós devemos criar uma economia que funcione para todos, não apenas para os muito ricos”.

Sanders aposta na defesa da gratuidade da educação superior dos Estados Unidos, e apresentou plano para viabilizar a proposta através da taxação dos mercados financeiros em Wall Street. Também defende a taxação das emissões de carbono, o corte de subsídios aos combustíveis fósseis e o investimento em tecnologias para energia limpa.

Temas ainda mais espinhosos são tratados pelo candidato, como a a reforma da Justiça Criminal do pais como saída para o problema de alta taxa de desemprego e encarceramento entre afro-americanos, que ele aponta como evidência de racismo sistêmico nos Estados Unidos. Até dobrar o salário mínimo por hora trabalhada faz parte de sua plataforma de campanha, em um claro distanciamento das corporações econômicas que mandam e desmandam na política, legalmente nos Estados Unidos, através das astronômicas contribuições para seus candidatos favoritos.

Sua campanha, até o momento, foi financiada majoritariamente por indivíduos, que contribuem, em média, com US$ 27. O mesmo já disse: “não acho que bilionários devam ter o poder de comprar políticos”. O comitê não aceita doação de corporações, e apesar disso já arrecadou 33 milhões de dólares entre setembro e dezembro de 2015, contra 37 milhões da adversária. Ele também critica o bipartidarismo exercido por Republicanos e Democratas, afirmando que os dois estão atados ao dinheiro das corporações.

Bernie Sanders vem ganhando a simpatia de uma grande parte dos eleitores jovens, mesmo recebendo críticas de que defende ideias utópicas. É válido não esquecermos que a política é esse ambiente de materialização de utopias em realidade, para o bem o para o mal. Foi assim, coincidentemente, com o atual Presidente, Barack Obama, e pode ser agora com quem vem representando a insatisfação de uma parcela considerada excluída da divisão da riqueza produzida pela ainda nação mais importante do planeta, representada pelos 99% de excluídos, símbolo do movimento Occupy Wall Street.

Sua trajetória no Senado foi como político independente, e seu perfil alternativo à hegemonia bipartidária estadunidense é que faz crescer sua base de apoio, e que pode alavancar sua campanha caso se confirme o que o canal CNN divulgou recentemente sobre New Hampshire, próximo local a realizar as eleições primárias, onde o senador ganharia de Hillary Clinton por 60% a 33%. Entre os democratas com menos de 30 anos, ganha de Hillary, segundo as pesquisas, com uma margem de 2 por 1. Claro que ele não é o “Salvador da Pátria”, há observações feitas em relação ao seu posicionamento sobre a reparações aos negros por conta da escravidão – e a certa hesitação em se posicionar a respeito da violência policial contra jovens negros.

Essa década vem observando o aumento cada vez maior da voz dos indignados, famintos e que sofrem preconceito por toda parte. Na Europa, em particular na Espanha e Grécia, representantes políticos conseguiram traduzir o sentimento em ação política e ocupação de espaços em governos e parlamentos. Esse sentimento, parece, ganha vida e importância eleitoral nesse processo de escolha dos candidatos à presidência dos dois principais partidos políticos dos Estados Unidos.

Esses primeiros resultados não retiram de Hillary Clinton a condição de favorita, apesar da diferença entre os dois seguir caindo. E não retira também, pelo contrário, a possibilidade competitiva de uma mudança de rumo radical, revolucionária, eu diria, pelo significado da eleição de Sanders como Presidente dos Estados Unidos tem para o mundo.

O desafio da campanha de Bernard Sanders é chegar de forma competitiva até 1º de março, na chamada Super Terça, quando 11 Estados fazem suas prévias eleitorais nesse dia. Para quem gosta de política e está sentindo saudades da nova temporada de House of Cards no Netflix, esses próximos 30 dias apresentam um substituto à altura, ainda com um final imprevisível.

* Daniel Vaz é publicitário, Mestre em Comunicação, fundador da ONG Opção Brasil, e representa a mesma na Secretaria Executiva da Seção Brasileira de Participação Social da Unasul – União Sul-Americana de Nações, e Mercosul – Mercado Comum do Sul. Desempenha as funções de Coordenador-Geral da UNIJUV – Universidade da Juventude e de Vice-Presidente da AUALCPI – Associação das Universidades da América Latina e Caribe pela Integração.

** As opiniões apresentadas nesse artigo são de responsabilidade do seu autor.

Com informações da BBC, Carta Capital e berniesanders.com