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Daniel Vaz: Se você quer a paz, prepare-se para a guerra

Imagem: Pixabay

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Qualquer que seja o resultado da votação sobre a admissibilidade do impeachment da Presidente da República, povo brasileiro vai continuar sofrendo os efeitos negativos das crises econômica e política instaladas no país por um bom tempo.

Antes de ser acusado de incendiário, alarmista etc, é válido dizer que o título desse artigo, uma simples reprodução de uma expressão popular, é apenas uma observação atenta de quem acompanha com interesse e atenção a política brasileira, e está colocada no sentido figurado apenas. Tal explicação se faz necessária justamente pelo momento bastante tenso em que estamos vivendo, e que vem colaborando para o agravamento de um cenário que, por si só, já seria bastante desfavorável. O convívio civilizado entre quem defende ideias diferentes está tão abalado que gerou a montagem de um Muro da Vergonha, em Brasília, destinado a separar fisicamente as pessoas contrárias e os que apoiam o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, durante a votação que ocorrerá nesse próximo domingo, 17/4.

Diante desse quadro, o resultado da votação que vai significar somente mais um round em uma guerra de interesses dos mais diversos, que parece ainda longe de acabar.

Existem pessoas que acreditam que o Brasil vai melhorar simplesmente pela troca no comando do país. Talvez, o máximo que ocorra de maneira rápida é a queda do dólar, ajudando de maneira mais direta apenas aqueles que desejam viajar ao exterior aproveitando a melhor cotação da moeda frente ao real. Contraditoriamente, esse é um dos poucos efeitos dessa crise que colabora com a diminuição das dificuldades das empresas brasileiras exportadoras, porque barateia os seus produtos no cenário internacional. A ideia que a simples saída de Dilma trará novamente a confiança de investidores nacionais e internacionais é conversa de especulador financeiro ou de gente interessada na saída dela por outros motivos, publicáveis ou não.

O cenário pode se complicar ainda mais, e vários fatos podem nos ajudar a compreender essa situação, como a posição adotada pelo Vice-Presidente da República, Michel Temer, que vem se dedicando com afinco em ocupar uma cadeira que ainda nem está vaga, e deve enfrentar um pedido de impeachment proposto pelo juiz do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello.

Outro ítem a ser considerado é a capacidade de mobilização de segmentos sociais e de personalidades contrárias à interrupção do mandato de Dilma, muito mais do que favoráveis a esse governo. Tal fato demonstra força desses setores para seguir nas ruas mesmo com o afastamento dela da Presidência.

Um fator fundamental será a batalha nos tribunais, que começou já nessa terça-feira, 12/4, com a ação apresentada pelo líder do PMDB na Câmara ao STF, contestando procedimentos adotados na votação ocorrida na comissão parlamentar do impeachment. Esse é apenas um dos capítulos de uma longa batalha que poderá ser estabelecida no Judiciário, e arrastarão por longo tempo a decisão definitiva dessa questão.

Como se tudo isso não fosse suficiente, aliados do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e ele próprio, já declararam que existem outras ações prontas para serem utilizadas caso esse primeiro pedido de impeachment seja rejeitado.

A constatação que podemos fazer é que ainda há muita munição para ser utilizada pelas partes envolvidas nesse processo, que deve se arrastar por muito tempo.

Enquanto isso, os reles mortais, a maioria do povo brasileiro, esses terão que continuar convivendo com os efeitos do agravamento da situação social, política e econômica do país, como o aumento do desemprego e a provável queda acentuada do Produto Interno Bruto, que pode chegar até 4% em 2016, segundo estimativas divulgadas recentemente.

O caminho é seguir no rodo cotidiano, batalhando no dia a dia para encontrar formas de viver em um cenário tão turbulento, continuando na batalha para superar essas dificuldades que vem complicando a nossa vida.

Portanto, se queremos a paz, teremos que nos acostumar a essa guerra, de ideias, posicionamentos políticos, pelo pão de cada dia em um cenário tão turbulento, por interesses diversos, justos ou obscuros. Enfim, a luta continua, companheiro ou companheira, e a situação política do nosso país vai demorar para se estabilizar.

* Daniel Vaz é Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, fundador da ONG Opção Brasil, representando a mesma na Secretaria Executiva da Seção Brasileira de Participação Social da Unasul – União Sul-Americana de Nações, e Mercosul – Mercado Comum do Sul. Desempenha também as funções de Coordenador-geral da UNIJUV – Universidade da Juventude e de Vice-presidente da AUALCPI – Associação das Universidades da América Latina e Caribe pela Integração.

** As opiniões apresentadas nesse texto são de responsabilidade do seu autor.