Mulheres jovens não são o futuro, são o presente

Ser mulher, jovem, negra e pobre no nosso país tem sido sinônimo de desigualdade e discriminação. Tenho trabalhado com muitas dessas mulheres nos últimos anos. Mulheres que acreditam que essa situação pode mudar e que, para isso, seu envolvimento na discussão de temas como relações de gênero, desigualdades raciais, sociais e geracionais é fundamental. É preciso compreender que as desigualdades das quais elas tem sido alvo não são dadas pela natureza e sim, construídas socialmente e reproduzidas cotidianamente nas suas casas, nos seus locais de trabalho e de educação, nas suas relações sexuais e afetivas.

Meninas negras não precisam se embranquecer para serem bonitas

Diversos grupos de mulheres estão se organizando, em todo o País, com o intuito de pensar e discutir essas questões e de construir outras possibilidades de práticas sociais. Temos visto organizações governamentais e não governamentais desenvolverem intervenções para formar lideranças e fomentar a participação dessas mulheres na construção de políticas públicas e nos espaços de controle social. Como fruto dessas iniciativas, temos visto mulheres jovens demandando do poder público atenção às suas especificidades monitorando a execução destas políticas.

O que elas querem? Querem uma escola que também apresente princesas e heroínas negras, para ensinar as meninas negras que não precisam se embranquecer para serem bonitas; Querem um serviço de saúde que respeite suas escolhas e que as considere sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos; Querem exercer os mesmos direitos de ir e vir dados aos homens jovens; e tantos outros direitos fundamentais para o exercício da cidadania numa sociedade democrática.

O envolvimento dessas mulheres jovens na busca por conquistas cotidianas significa que elas não são apenas parte do futuro, mas que estão construindo um presente mais igualitário para elas e para toda a sociedade. Investir na educação entre pares e fomentar a participação de jovens (mulheres e homens, negros e não negros) parecem ser possibilidades rumo à construção de um presente e de um futuro melhor para todos nós. Então, o que podemos fazer para fortalecer a participação de jovens?

Fonte: Correio do Brasil (Texto de Jeane Félix, doutoranda em Educação pela UFRGS)