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Daniel Vaz: Brasil não deve subestimar suas relações com a América Latina

veias abertas

Obra de Oscar Niemeyer, presente no Memorial da America Latina, em São Paulo

A 1ª declaração pública do Ministro Interino de Relações Exteriores do Brasil, José Serra, aconteceu nessa quarta-feira, 18 de maio. Seu discurso foi apresentando em 10 pontos, numa mistura de pautas políticas, ideológicas e de comércio exterior, trazendo a elas o protagonismo sobre o seu trabalho no Itamaraty, órgão do estado brasileiro com muita história, a ponto de sua atuação presentear o nosso país com a honra de abrir todos os anos a Assembléia Geral das Nações Unidas, tradição iniciada em 1947, 2 anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial.

Já foi possível ver antes de sua posse formal no cargo que ele não tem muito traquejo para a missão, respondendo de maneira ríspida às manifestações de países da América Latina que não reconheceram como legítimo o governo de Michel Temer, ressucitando temas quase do período de final da Guerra Fria para responder aos questionamentos de chefes de estado, presidentes em exercício e até lideranças máximas de organismos como a Organização dos Estados Americanos e a UNASUL – União Sul-Americana de Nações, em uma imposição de poder (provisório) que a forma com que foi conduzida a retirada de Dilma Rousseff da Presidência da República não recomenda a quem deve ter a diplomacia como sua linha central de atuação.

Entre os principais temas destacados de seu discurso de posse estão o fortalecimento de parcerias bilaterais com Argentina, por “semelhanças políticas e econômicas”, e a intensificação das relações com países asiáticos China e Índia, apesar de não se referir aos BRIC´s, organismo multilateral criado a partir das chamadas iniciativas Sul-Sul, implementadas a partir da gestão do Ministro Celso Amorim durante o governo do presidente Lula, que os dois países, junto com Brasil, Rússia e África do Sul fazem parte.

O que o novo chanceler chama de ideologia, na verdade, foi a estratégia adotada pelo órgão para não apenas “fazer negócio”, função essa do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, que continua existindo, diferentemente do Ministério da Cultura, que foi extinto. As relações internacionais levaram o Brasil a partir da década passada a um outro patamar na geopolítica mundial, exatamente pelos laços fraternos e de cooperação desenvolvidos com países da América Latina e África, em especial. Sobre o Mercosul, disse que deve “renová-lo”, sem entrar em maiores detalhes.

Me valendo da condição de cidadão interessado e atuante no tema, recomendo ao chanceler interino que vá com muito cuidado ao tomar medidas em nome de um governo provisório e visto como ilegítimo por uma boa parcela da população, que sequer ainda sabe para onde vai, ou se vai para algum lugar. Responda à pressão internacional sobre o momento institucional que vivemos no Brasil de forma que não prejudique ainda mais a imagem do país no exterior e os nossos caminhos estratégicos de desenvolvimento global.

 * Daniel Vaz é Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, fundador da ONG Opção Brasil, representa a mesma na Secretaria Executiva da Seção Brasileira de Participação Social da Unasul – União Sul-Americana de Nações, e Mercosul – Mercado Comum do Sul. Desempenha também as funções de Coordenador-geral da UNIJUV – Universidade da Juventude e de Vice-presidente da AUALCPI – Associação das Universidades da América Latina e Caribe pela Integração.

** As opiniões apresentadas nesse texto são de responsabilidade do seu autor.