Faltam programas de prevenção ao álcool

 

Os pais também são responsáveis pelo consumo excessivo de álcool por menores de idade, flagrado pelo Diário no último fim de semana. A avaliação é do integrante do Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos e ex-conselheiro tutelar de São Bernardo, Sérgio Linhares Hora. “O poder público precisa sim fiscalizar, mas só isso não resolve. É preciso mudar a cultura de consumo de álcool entre os jovens e suas famílias”, explicou.

Segundo Hora, o Brasil é um país permissivo em relação à bebida alcoólica. “O próprio pai incentiva o consumo dentro de casa, na festinha em família, sem saber que pode estar criando um problema sério para esse jovem”, destacou.

Para resolver a questão, o especialista avalia ser necessário um trabalho integrado entre poder público e população. “O poder público deve coibir a venda e garantir tratamento para os dependentes e suas famílias. Quanto aos pais, cabe a eles fiscalizar os filhos: pergunte onde vão, o que fazem e com quem estão”, ensinou.

 

SAÚDE

O consumo exagerado de álcool pode prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso central de adolescentes e torná-los mais suscetíveis a transtornos psiquiátricos. Conforme a psiquiatra da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Fernanda Piotto Fralonardo, é possível notar quando o jovem está consumindo álcool em excesso. “Há mudanças de comportamento, ele fica mais recluso, pode haver sinais de violência e queda no rendimento escolar”, enumerou.

Livrar-se do vício é mais difícil para o adolescente. “É necessário mudar o círculo social, processo que costuma ser doloroso para o jovem”, alertou a médica.

 

Região trata doentes, mas escorrega na prevenção

As ações das prefeituras do Grande ABC relacionadas ao consumo de álcool por menores de idade são mais corretivas do que preventivas. Santo André, São Caetano e Ribeirão Pires atendem os casos de dependência química, mas as ações de conscientização da molecada para diminuir a bebedeira ainda são tímidas.

Em Santo André, o Creas (Centro de Referência Especializado da Assistência Social) Infância e Adolescência acompanha os menores e as famílias em situação de risco. Se é constatada a dependência química, o jovem é encaminhado para o setor de Saúde. A cidade também conta com dois conselhos tutelares que recebem denúncias. A GCM (Guarda Civil Municipal) faz abordagem educativa em parques e praças, e aciona os pais ou responsáveis pelo menor, podendo também encaminhá-lo à delegacia.

Em São Caetano, menores de 18 anos viciados em álcool são atendidos pela Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente. A equipe é multidisciplinar e composta por psiquiatras, psicólogos, terapeuta ocupacional e assistente social. O tempo de tratamento é de cerca de dois anos. Os métodos utilizados são: terapia ocupacional, orientação para os pais, medicação específica para cada paciente e programa de reinserção social. Na cidade, a GCM procura proibir o consumo de bebidas alcoólicas em praças e parques, além de fiscalizar esses locais para evitar atos de vandalismo e violência, por exemplo.

Em Ribeirão Pires, os adolescentes são encaminhados ao Caps Infantil (Centro de Apoio Psicossocial). É oferecido acompanhamento psicológico e clínico durante atendimento prestado por equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e oficineiros.

 

Em São Bernardo, ‘esquenta” sem álcool conscientiza jovens

A Cajuv (Coordenadoria de Ações para a Juventude) de São Bernardo tem um jeito diferente de combater o consumo de álcool por menores de idade. Desde o primeiro semestre de 2009, o Parque da Juventude Città de Marostica, próximo ao Paço Municipal e pertinho de um dos pontos onde o Diário flagrou jovens consumindo bebidas, recebe o projeto Esquenta Juventude. Realizado uma vez por mês, sempre aos domingos, o objetivo do encontro é conscientizar sobre o consumo de álcool.

Segundo o coordenador de ações para a juventude, Daniel Cássio, a intenção é promover um espaço no qual o jovem possa se divertir com os amigos sem se embriagar. “Trazemos ídolos da juventude para dar o exemplo de maneira sutil. Também conscientizamos em relação a doenças sexualmente transmissíveis e distribuímos camisinhas”, explicou.

A intenção da Cajuv é ampliar o projeto, que ainda no primeiro semestre deste ano deve ter duas edições mensais. “No segundo semestre, queremos fazer semanalmente”, garantiu Cássio. A última edição, em dezembro, reuniu 15 mil jovens. O Esquenta Juventude começa sempre às 14h e vai até as 18h30.

 

Fonte: Diário do Grande ABC