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Acorda, Recife, Acorda! Isso não é o galo
por Aline de Andrade*
Gatinhas e gatinhos. Todo mundo transado. Carnaval? Sim carnaval! Rolou frevo, maracatu, teve bloco como o “foca” na mobilização com uma foquinha lilás, pessoas fantasiadas, até Jesus pintou lá! Crianças, adolescentes, muita gente bonita e bem arrumada, apareceram uns políticos de terno e gravata.
Para onde vamos? Ninguém sabe! Que horas vai sair? também não! Não há líderes! São jovens gritando no meio da Agamenon Magalhães “desce, desce” pras pessoas nos ônibus, são meninas arrumando a franja e tirando fotos com cartazes no parque, meninos que passam com cartolinas “acordei gay”, a luta pela justiça econômica em sintonia com a luta de pela justiça cultural, tantas singularidades, tanta gente nova que nunca esteve lá. E olha, olha, olha, olha a água mineral do Candeal você vai ficar legal!. Era isso, Recifolia!
A coisa tinha já começado, chegar lá já era o protesto e como formigas caminhando na pista, adentramos na folia, corando o hino de Pernambuco, o hino do Brasil, um “sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”… e mais algumas palavras de ordem vazias! O que faremos com isso?
Parada no sinal vermelho, pessoas na janela com panos brancos e lençóis, policias com flores e faixas e para todo aquele que saísse da ordem: vaias! Um assombroso uhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Revolução? Utopia? Uma nova ordem mundial? Nada de bandeiras! Apenas nosso caminhar pacifico, apenas nosso galo facistóide que canta! Recife com 100 mil manifestantes, um troço inédito, absolutamente novo, a Conde da Boa Vista tomada, do Derby ao Marco Zero, uma longa linha reta inundada, nada de gás, nada de nada, nada de balas de borracha! A auto-regulação a serviço da repressão da conduta desviante. E muito antes e porque não sabemos para onde vamos, vamos embora!
O protesto como um deleite estético. Uma profusão poética de cartazes coloridos, uma imagem clara da nova nação! É a nossa proposta mais elegante! Apenas vozes emaranhadas e circundantes da grande força dos 100 mil silenciosos que se dispersavam, com a hora exata, de voltar pra casa, pra suas redes, pra exposição midiática do face, levando consigo um Pernambuco diferente, inusitado, novo, encorpado, a nova democracia que cala e consente. A ética zen budista e o espírito capitalista.
Tirando os comerciantes locais que faturaram com o assustado. Além de deixar mais um tanto de lixo no chão. O que foi conquistado? Risos do palácio que ecoavam: seus otários! Foi perfeito, tudo realmente arranjado. Parabéns PM, o contrato com a ordem está selado.
* Aline de Andrade é poeta e mestranda em sociologia da UFPE