Cômoda juventude

Cômoda Juventude

Houve um tempo no qual os jovens tinham disposição para lutar: lutou-se contra a falta de direitos, contra o preconceito, contra a corrupção e contra a guerra civil.

Um fato: eles conseguiram vencer tais obstáculos. Eles encontraram maneiras de driblar as imperfeições da sociedade na qual estavam inseridos; sofreram represálias, discriminação e não obtiveram apoio em algumas de suas empreitadas. Mas contabilizaram vitórias, algumas mais demoradas e duras, outras aceitas rapidamente.

Então, esses jovens cresceram e evoluíram com o passar dos anos. Formaram famílias, abandonaram certas ideologias e hoje os que outrora manifestavam são os pais e os avós daqueles que se acomodaram. Não há problemas que valham a pena ser solucionados; não há por que sair da frente do computador e da televisão. Agora seus quartos são mais aconchegantes do que o sufoco de uma manifestação.

Será que esses jovens dão valor ao que seus progenitores conseguiram conquistar para eles? Foram seus antecessores que realizaram grandes feitos, derrubaram barreiras para que a atual geração vivesse em plena liberdade. Talvez cansados de uma vida restringida, não conseguiram passar adiante o sentimento de não poder expressar-se, vestir-se e amar quem não era considerado correto.

Não há razão para as reclamações de hoje. A liberdade em que se vive agora é inigualável. Quase tudo é permitido fazer; aos doze anos já se tem mais experiências do que os pais ou os avós tinham com o dobro de idade. Será a pressa de viver intensamente que fez os jovens perderem as rédeas? Existe uma vida inteira e sem conflitos que possibilita realizar inúmeros feitos.

Esta, então, é uma geração vazia. Não há lutas a serem vividas e, se há, ninguém se dispõe a ir em frente. É mais fácil não fazer nada. E quem vai contra essa tendência é encarado com estranheza. A geração que abriu as portas para o atual paraíso parece ter perdido a garra para lutar e ver uma faísca de vontade nos olhos de seus frutos. Preocupar-se é coisa para amanhã. Hoje há de se viver de maneira supérflua e rápida. Ensinamentos a gente deixa para os próximos tentarem passar adiante ou para a enfraquecida mídia. Por agora, a luta cessou.

Marciele Lutkemeyer – Estudante do 3º ano do Ensino Médio

Fonte: Jornal Agora